quinta-feira, 2 de outubro de 2008

RORAIMA: A REVOLTA DA ÍNDIA E A DECEPÇÃO DO NATIVO

Fonte da notícia sobre o casal indígena: Blog da Santa: http://blogdasanta.blogspot.com/2008/05/ndia-celina-makuxi-detona-lula-ndia_12.html


Texto sobre Joaquim baseado na reportagem de Marco Antônio Soalheiro


A índia makuxi Celina (51 anos) que vive com o marido, o fazendeiro Raimundo Cardoso (56 anos), na região da Raposa da Serra do Sol, de acordo com a proposta prevista no decreto de demarcação da reserva, só poderá permanecer na área, se abrir a propriedade, de 1500 hectares, para uso comum dos moradores da reserva. Ela protesta: “Queria saber se o Lula [presidente] vai abrir a casa dele para alguém estranho entrar lá. Eu comprei, paguei e não roubei minha terra de ninguém. O Lula não colocou um prego na minha casa”.


O casal tem certificado de posse da propriedade, de 1988, emitido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, depois de pagamento de um valor estimado hoje em R$ 70 mil. Curica afirma que a Fundação Nacional do Índio (Funai) ofereceu indenização de R$ 27 mil para que deixasse a terra, mas, por seus cálculos, teria de receber "no mínimo R$ 700 mil".


São indenizações desta natureza que estão sendo propostas pelo governo para aqueles que já estão na região da reserva, há anos, vivendo e produzindo.


Outra vítima é o fazendeiro Joaquim Corrêa, com 85 anos de idade, que é nativo da região e vive, há pelo menos 81 anos, em uma propriedade de 2 mil hectares, às margens do Lago Caracaranã, que passou a ficar dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol depois da demarcação em área contínua feita pelo governo federal.


O título de posse da área data de 1886. Seu Joaquim herdou a propriedade de seus antepassados, e se diz "contrariado" com a possibilidade de deixá-la, sem ao menos receber uma indenização que considere justa, caso o Supremo Tribunal Federal confirme a legalidade da demarcação.


Seu Joaquim se diz eleitor de Lula desde 1989, quando o então candidato visitou sua terra. Por isso, chegou a enviar uma carta ao presidente, há cerca de dois anos, reclamando do valor oferecido pela FUNAI como indenização para que saísse da reserva: R$ 360 mil. Ele estima que o valor justo seria pelo menos de R$ 1 milhão. Em resposta à carta que enviou a Lula, Seu Joaquim disse que recebeu uma resposta protocolar, pedindo que encaminhasse as queixas à Casa Civil – o que ele fez, tendo recebido a resposta de que o assunto seria avaliado. Não foi.


“Me decepcionei. Não vou dizer que ele [ presidente da República] fez um mal governo em nível nacional, mas, para Roraima foi um desastre. O pronunciamento que está vindo dele é de que não vai ceder em relação à demarcação, mas se respeitar a decisão do Supremo, já está de bom tamanho”... “Agora já passei da idade e nem tenho mais intenção de votar”.


Pois é, Seu Joaquim, mas já que nos fez pagar, a todos brasileiros, por sua opção de voto, o mínimo que poderia fazer é continuar a votar: mas, desta vez, contra Lula. Não é por nada não; é que tem gente que jamais lhe conheceu, de todas as partes do Brasil, lutando para que o senhor não seja injustiçado. Se nada devia a Lula e nele confiou e votou, sendo, depois, por ele traído, faria um enorme favor a aqueles que nunca receberam nenhum voto seu, mas que lutam pelo senhor, se viesse a engrossar os votos da oposição ao governo de esquerda.


O lago de Caracaranã, um dos pontos turísticos mais belos de Roraima, está a 166 quilômetros de Boa Vista. Parte do trajeto é em estrada de terra, onde há muitos animais na pista. A propriedade de Joaquim Côrrea já funcionou como uma espécie de balneário, com chalés, bares e uma praia de água doce e cristalina. Mas segundo um de seus genros, o movimento caiu após a perspectiva de retirada dos não-índios da área e a colocação de uma placa dizendo que só poderia se ingressar ao local com autorização da FUNAI.


Questionado se preferia receber R$ 1 milhão ou permanecer na propriedade, Côrrea disse que teria que consultar a família. Alegou temer que haja perseguição aos não-índios, caso o STF autorize a permanência deles por lá , mas reiterou confiar em duas “justiças” para que se chegue a uma solução positiva para o impasse: “A primeira esperança é justiça Divina e a última justiça dos homens. Acredito que são pessoas [os ministros do STF) que tenham caráter e amor à pátria”.


O relator das ações pendentes no STF que contestam a demarcação da Raposa Serra do Sol é o ministro Carlos Ayres Britto, que disse nesta semana estar com o voto praticamente concluído. Caberá ao presidente da corte, ministro Gilmar Mendes, marcar uma data para o julgamento no plenário, que pode ocorrer ainda em maio.

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