quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Chorar o arroz derramado

Por Wilson Barbosa

Jornalista

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O governador do Estado, José de Anchieta Júnior (PSDB) ficou desolado com a medida tomada pelos arrozeiros que recusaram a proposta dele. O chefe do Executivo pretendia transferir os arrozeiros para uma área e dar toda infra-estrutura, como a implantação de rede de energia elétrica e estradas para escoamento da produção, para que eles continuassem a desenvolver suas atividades em outra região do Estado.


Anchieta Júnior conseguiu com o governo Federal a suspensão da Operação Upatakon III por dois meses, para que não fosse registrado um conflito entre os arrozeiros e os policiais federais escalados para retirá-los da região.


Só que os arrozeiros através do presidente da associação, empresário Paulo César Quartiero, afirmaram que pretendem permanecer na Raposa/Serra do Sol aguardando uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para sair da área. O governador Anchieta Júnior lamentou a decisão, mas reforçou que não irá desistir de lutar para evitar um confronto.


Caso os ministros do STF decidam pela retirada dos arrozeiros e as seis mil pessoas que direta e indiretamente se encontram trabalhando no plantio de arroz, na área Raposa/Serra do Sol e realmente os arrozeiros sejam forçados a deixar a região, esperamos que depois eles não venham chorar o arroz derramado, ou seja, o leite derramado.


Pelo que estamos acompanhando o dia-a-dia desta celeuma da área Raposa/Serra do Sol, tudo leva a crer que será muito difícil os arrozeiros conseguir permanecer na região. Se houver um conflito, podem ter certeza que muitas vidas serão ceifadas.


Ai fica no ar a pergunta. De quem será a responsabilidade das pessoas que forem mortas na ação? Quem vai responder pelos incidentes que forem registrados na retirada dos arrozeiros da Raposa/Serra do Sol? Estes fatos que podem vir a acontecer dentro de alguns meses poderiam ser evitados.


Decorridos quase três anos que o Presidente Lula demarcou a área indígena Raposa/Serra do Sol, pouco foi feito para solucionar os problemas das pessoas que se encontravam há mais de trinta anos na região e do dia para a noite, tiveram que deixar suas terras com a mão na frente e a outra atrás.


Alguns produtores receberam quantias inferiores sobre o valor das terras. Outros receberam promessas do governo Federal que iriam ser assentados em outra área do Estado, entretanto a promessa ainda não saiu do papel.


Se por caso o governo Federal tivesse cumprido o que prometera quando da demarcação da área Raposa/Serra do Sol em 2005, qual seja, com o pagamento de indenizações justas das terras dos produtores, área para eles continuarem plantando e outras promessas, com certeza toda esta celeuma não estaria acontecendo e que pode redundar num derramamento de sangue.


Na visão do presidente da Assembléia Legislativa (ALE-RR), deputado Mecias de Jesus (PR), o uso da força sem uma decisão judicial pode levar ao derramamento de sangue. Sem decisão judicial os rizicultores ameaçam reagir e, havendo confronto, é previsível que haja mortes e se isso acontecer será ruim para o nosso Estado.


Já para o presidente do Tribunal de Justiça (TJ), desembargador Robério Nunes, os arrozeiros esperam demover o governo Federal ou obter uma ordem do STF para que não haja desintrusão. Para ele mesmo que a retirada ocorra com ordem judicial ou sem ordem judicial, as instituições do Estado devem se posicionar em favor desse segmento da produção no Estado.

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