quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A IRRESPONSABILIDADE DOS RESPONSÁVEIS

Percival Puggina


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Zero Hora


25/05/2008

No Exterior, a maior parte das matérias sobre o Brasil se refere à importância planetária da Amazônia, às queimadas e ao desmatamento em curso numa região que excita a cobiça dos espertos e expõe a tolice dos tolos. Nada disso, porém, teria maior importância se aquele extraordinário patrimônio nacional suscitasse, no grau devido, a responsabilidade dos responsáveis. Infelizmente não é assim.

Na edição de ZH da última quarta-feira, nosso Paulo Sant’Ana lembrou a frase de Al Gore em 1989: “Ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é deles, mas de todos nós”. É a síntese de uma idéia à qual a irresponsabilidade dos responsáveis não cessa de dar causa. Nossa conduta justifica ou permite que velhacos se fantasiem de ONGs benevolentes, adquiram vastas propriedades na região e se infiltrem em meio aos índios, organizando grupos insurgentes e gerando uma babilônia lingüística onde o que menos se ouve é o idioma nacional.

Acredite, leitor: o Brasil está fazendo o jogo dos seus antagonistas e, em breve, se declarará espoliado pela cupidez alheia. Marina Silva, em entrevista concedida logo após deixar o ministério, apresentou como “avanço” haver reduzido a devastação da floresta para 11,2 mil quilômetros quadrados em 2007. Um buraco com extensão superior à da Lagoa dos Patos! E o presidente Lula diz que o problema “é como se tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave" (em SP, 30/01/2008). Você já ponderou, leitor, o volume de madeira que representa uma devastação de tais proporções? Não se trata de levar no bolso sementes de alguma erva medicinal (o que já seria furto de riqueza botânica), mas de milhões de toneladas, processadas em centenas de serrarias, que demandam gigantescas frotas de balsas, navios e caminhões que certamente não têm aspecto de viatura para entrega de merenda escolar. Tudo sem que ninguém perceba? É a irresponsabilidade dos responsáveis.


Não bastasse a cupidez que patrocina as motosserras e certas ONGs, a tolice dos tolos ainda levou o país a assinar a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Essa Declaração lhes reconhece direito a livres estruturas políticas, econômicas e sociais (incluindo terras, territórios e recursos), à autonomia para fixarem suas próprias leis, à desmilitarização dessas áreas e por aí afora.


Ao longo dos anos, o governo brasileiro, numa seqüência entreguista, vem consignando a tribos indígenas imensas porções do território nacional (especialmente na Amazônia e em suas regiões de fronteira). O leitor atento deve ter percebido que escrevi “tribos” e não “nações”. Foi proposital. É inaceitável que nosso país, cedendo à pressão externa, venha admitindo a existência de uma infinidade de nações dentro da nação brasileira. A soberania nacional se esvai, precisamente, pela aplicação desse conceito a algo que, na verdade, são tribos dispersas, com idiomas distintos e sem a mais remota idéia de unidade.

Só escaparemos da “balcanização do Brasil”, como já foi dito, se ressoar sobre o Congresso Nacional um vigoroso toque de despertar. Por enquanto, fora dos quartéis, ele é muito fraco. Tudo é feito contra a soberania nacional: o ministério da Justiça permite que se conceda aos índios direitos que os brasileiros não têm; o ministério da Defesa, atendendo pedido de ONG “indigenista”, proíbe um general de pisar em reserva indígena; o ministério de Ações de Longo Prazo, com tutela sobre a região, é comandado por um cidadão que fala inglês melhor do que português; e o ego do presidente se satisfaz com os aplausos de qualquer assembléia internacional.

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